Após ex-ministro Pazuello passar mal, CPI é suspensa e só será retomada amanhã

O general Eduardo Pazuello, durante sessão da CPI da Covid – Jefferson Rudy/Agência Senado

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, iniciou nesta quarta-feira (19) o seu depoimento à CPI da Covid. A fala do general, a mais aguardada até o momento na CPI, foi interrompida pouco depois das 16h por conta do início da ordem do dia no Plenário do Senado, que conta com itens que devem se estender pelo final da tarde.

A razão do adiamento, no entanto, seria outra: o general teria passado mal, sendo acometido de uma síndrome de vagovagal, que causa desconfortos abdominais. Segundo o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-ministro foi atendido pelo senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, e iria voltar à sessão – quando ela acabou adiada pela presidência.

O militar negou, ao sair do prédio, que havia passado mal. Otto Alencar, à CNN Brasil, deu uma versão distinta. “Quando eu cheguei na sala do cafezinho, ele estava muito pálido”, afirmou, explicando que a síndrome, causada por emoções muito fortes ou por longos tempos em pé, causa perdas sanguíneas no tórax e no cérebro. Após uma série de alongamentos, o ex-ministro teria voltado a ficar corado. “Ele passou muito tempo depondo, falando, e ficou muito tempo em pé, emocionado.”

Neste primeiro dia, a fala do general da ativa foi blindada por um habeas corpus que o permite se calar sobre atos relativos às suas ações diante da pasta. Mesmo assim, o general respondeu às perguntas dos senadores, de maneira considerada prolixa e tortuosa pelos parlamentares, que criticaram a postura.

“Um manda, o outro obedece”

Contrariando a fala de outros depoentes que disseram à CPI que o presidente Bolsonaro intervinha nas ações de combate à pandemia de covid-19, Pazuello afirmou que nunca foi chamado para ser orientado pelo presidente. Entretanto, em uma live com Jair Bolsonaro, quando o ex-ministro foi diagnosticado com covid-19, Pazuello disse que “um manda, o outro obedece”, referindo-se a ordens do presidente sobre a condução da pandemia.

Pazuello disse que gostaria de ter se encontrado mais com o presidente Bolsonaro e os seus filhos para a tomada de decisões no Ministério da Saúde. Ao ser citado, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), interrompeu a fala do ex-ministro: “vamos continuar conversando, Pazuello”. Presidente da comissão, Aziz chamou a atenção do filho do presidente. “Eu não estou entendendo onde esse relator quer chegar”, disse Flávio Bolsonaro sobre Renan Calheiros (MDB-AL).

O ex-ministro afirmou ao colegiado que o Ministério da Saúde não seguiu as recomendações da OMS porque a pasta tinha “autonomia” pra isso.

Recomendação do uso de cloroquina

De acordo com Pazuello, a recomendação do uso de cloroquina pelo Ministério da Saúde, permaneceu porque “vários países” também faziam o uso do remédio. “Mais de 20 países com protocolos para usar o medicamento contra o coronavírus, como China, Cuba e Venezuela”.

Em maio do ano passado, a OMS recomendou que os testes com o medicamento fossem suspensos por apresentarem risco de morte. O Brasil é o único país que ainda insiste no uso do remédio através do presidente Jair Bolsonaro. Na segunda-feira (17), a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), ligada ao Ministério da Saúde, passou a contraindicar o uso do medicamento em pacientes internados.

O ex-ministro disse não saber de quem partiu a ordem para a produção do remédio no Exército. Ele também disse que não foi consultado. Pazuello também disse que a capacidade de estrutura poderia ter sido maior:

Pazuello negou a responsabilidade sobre o aplicativo que recomendava uso de cloroquina até para tratamentos em bebês. De acordo com ele, a responsabilidade da plataforma é da médica Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde e depoente na CPI da Covid nesta quinta-feira (19).

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) também confrontou as falas de Pazuello com o fato de que a TV Brasil noticiou, em Manaus, a criação do programa.

Contratos com a Pfizer

O ex-ministro disse que não ignorou as propostas de negociação com a Pfizer para a compra de vacinas. “Nós respondemos a Pfizer inúmeras vezes. Nunca fechamos a porta”, disse.

Covax Facility

Pazuello disse que o Brasil não negociou 50% e sim 10% de vacinas no consórcio porque o processo não tinha estabilidade para “tantos recursos”.

Crise em Manaus

Ao ser questionado sobre as ações para conter a crise de oxigênio em Manaus, Pazuello disse que desde quando foi informado – dia 10 de janeiro deste ano, “as medidas possível foram executadas”. “Se nós tivéssemos sabido antes, podíamos ter agido antes”, disse. O ex-ministro disse que o pico de mortes no estado foi entre os dias 15 e 20 de janeiro, mas foi desmentido pelo senador do estado do Amazona, Eduardo Braga (MDB-AM). Manaus sofreu com a falta de oxigênio por vinte dias e precisou da ajuda do governo da Venezuela.

O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) disse que o governador do Amazonas recebeu mais de 2 milhões em emendas para tratar da saúde no estado. Foi desmentido pelos senadores do estado, inclusive pelo presidente da Comissão. “Deixa de ser mentiroso!”, disse Omar Aziz. A sessão precisou ser interrompida.


Por Congresso Em Foco

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