Ex-traficante Mister M se reinventa no Botafogo FA e vira modelo fotográfico
Após nove meses preso, Diego encontra a chance de vencer na vida no futebol americano. Atleta também trabalha como cinegrafista do AfroReggae
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Após deixar a prisão, Diego virou cinegrafista e
modelo fotográfico (Foto: Arquivo Pessoal)
Nascido e criado no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, Diego
Raimundo da Silva Santos, mais conhecido como "Mister M", deixou o
submundo após anos dedicados ao crime. Primeiro do alto escalão do
tráfico a se entregar no dia da ocupação da comunidade, em novembro de
2010, ele quer esquecer os nove meses nas penitenciárias de Bangu I e
Bangu III. Logo que deixou a prisão, absolvido da acusação de associação
para o tráfico, foi convidado por um amigo para trabalhar na ONG
AfroReggae, como cinegrafista do programa Conexões Urbanas, do canal
Multishow, além de outras produções. Pouco depois, resolveu se arriscar
no futebol americano, esporte pouco popular no Brasil. Os primeiros
passos com a bola oval foram no Botafogo Mamutes, ainda nas areias, em
novembro do ano passado. Não demorou para que ele também reforçasse a
equipe nos gramados, o Botafogo FA, há três meses. Fã de Ray Lewis,
ex-jogador que atuou pelo Baltimore Ravens na NFL, o carioca sonha
trilhar os mesmos passos do ídolo e, quem sabe, jogar na milionária liga
americana.modelo fotográfico (Foto: Arquivo Pessoal)
- Sempre assisti à NFL e meu sonho é jogar lá. Nem sabia que tinha futebol americano no Brasil. Me chamaram para fazer um teste no Botafogo da praia, o Mamutes, mas eu não sabia se conseguiria jogar. Demorei três treinos para decidir, tomei coragem e fui. Depois, passei a defender a equipe no campo. Vamos lutar para que o esporte cresça no Brasil, e vou defender o Botafogo com todas as forças, esse é um time de guerreiros - disse Diego, que tem 28 anos e nove irmãos, todos criados pela mãe, Dona Nilza dos Santos.
Diego, o "Mister M", desponta no time de futebol americano do Botafogo (Foto: Arquivo Pessoal)
Antes de ingressar no tráfico, ele já havia abandonado a escola, e
trabalhado de auxiliar em uma cooperativa de vans. Entrou para o crime
com 16 anos e, aos 18, assumiu a função de segurança do chefe do
tráfico. Depois de um tempo, tornou-se o braço direito de Luciano
Martiniano da Silva, o Pezão, um dos líderes do tráfico de drogas no
Complexo do Alemão. As principais motivações para deixar a marginalidade
foram as filhas Maria Clara, de cinco, e Ana Julia, de três. Diego não
queria que elas crescessem sem a presença de um pai. Até os 25, idade
que tinha ao se entregar, Diego não saiu do Alemão uma vez sequer. As
primeiras viagens de sua vida foram com o Alvinegro, experiência que ele
espera repetir em outras oportunidades.
Além de cinegrafista e modelo, jogador é destaque
do torneio Touchdowm (Foto: Arquivo Pessoal)
- Nunca tinha saído do Alemão. Não ia nem para o asfalto, ficava só no
morro. A última viagem que fizemos foi para Porto Alegre, ganhamos por
31 a 0 do Porto Alegre Bulls. Viajar e conhecer lugares novos é muito
bom. Desde que entrei para o Botafogo, aprendi muitas coisas, ganhei
novos amigos e conheci pessoas completamente diferentes das que eu
estava acostumado - contou o “linebacker”, também conhecido como "Blade"
(por ter um corte de cabelo parecido ao do personagem da série de
caça-vampiros), "Fifty" e "50 Cent" (pela semelhança com o famoso rapper
americano).do torneio Touchdowm (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando se entregou à polícia, a pedido da mãe e dos irmãos, que são evangélicos, o jogador usava uma camiseta polo da marca Reserva, com o símbolo de um pássaro, imagem que gerou grande repercussão e estampou a capa de diversos jornais e revistas. As roupas de grife eram compradas por encomenda, e esta era a sua favorita. Algumas pessoas enxergaram a cena com maus olhos, e Diego mal esperava a reviravolta que teria pela frente.
- Pensei, pô, tenho que me entregar na moda, bonitão, por isso, escolhi a camisa que eu mais gostava. No início, acho que o pessoal não gostou muito de me ver vestindo aquela camisa por associar a marca a um criminoso. Depois de ir preso, o Rony (Meisler), dono da Reserva, me chamou para ser modelo do selo AR, em parceria com o AfroReggae (marca para licenciamento de produtos que gera recursos para mais de 35 projetos de reinserção social). Não sou muito de desfilar, prefiro ser modelo fotográfico, mas, se alguém me chamar, estamos aí - relatou o modelo, que foi fotografado pelo renomado J.R. Duran e marcou presença no lançamento do selo, em desfiles como o da São Paulo Fashion Week.
Neste sábado, Diego e seus companheiros entram no campo do estádio Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador, às 14h, para o clássico contra o Flamengo FA, pela nona rodada do Torneio Touchdown.
Diego Silva Santos em um de deus trabalhos como modelo fotográfico (Foto: Arquivo Pessoal)
Diego virou modelo do selo AR, que gera recursos para 35 projetos de inserção social (Foto:Arquivo Pessoal)
Diego (primeiro da esquerda para a direita) com os companheiros do Botafogo (Foto: Arquivo Pessoal)
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